Inventário Participativo da cultura alimentar do povo Tremembé da Barra do Mundaú

A primeira atividade integrativa em 2021 do projeto “Território e Cultura Alimentar no Ceará” é a realização de um inventariamento participativo das referências culturais alimentares do povo indígena Tremembé da Barra do Mundaú, no município de Itapipoca. Essa ação propiciará a formação da equipe de inventariantes, composta por jovens, mulheres, lideranças e professores da escola da comunidade, e o contato com princípios de uma pesquisa de campo para levantamento documental, sistematização e interpretação de dados sobre a sociobiodiversidade de seu território e difusão dessas informações. 

As ações com foco na execução dessa etapa iniciaram em dezembro do ano passado, com a realização de encontros virtuais para alinhamento das metodologias de preservação do patrimônio imaterial e salvaguarda dos alimentos da biodiversidade e da cultura alimentar. 

Inventário Cultural Participativo

Uma das ferramentas que guiará a construção desse inventário alimentar é o Manual de Aplicação “Educação Patrimonial: Inventários Participativos” do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, visando incentivar a criatividade dos jovens Tremembé a buscar, identificar e difundir suas referências culturais.

Inventariar é levantar, organizar e apresentar conteúdos considerados tradicionais por fazerem parte dos costumes, história, memórias e cotidiano de um povo e, portanto, são considerados como patrimônio imaterial. Por se tratar de um inventariamento do patrimônio cultural alimentar, o objetivo são os saberes e os sabores, ou seja, os alimentos e as comidas, as formas de pescar, cultivar e fazer preparos culinários, os modos de comer, as celebrações, festas e espiritualidades ligadas a estes alimentos.

O inventário será construído através de um método participativo, realizado pelas próprias pessoas que vivem estes patrimônios culturais no seu dia-a-dia e, por isso mesmo, são consideradas as mais indicadas para pesquisar, produzir e apresentar conteúdos sobre essas referências culturais alimentares. A ação será dinamizada por Gabriella Pieroni, consultora do projeto, historiadora e educadora, que faz parte do GT Educação da rede Slow Food do Brasil e atua conduzindo atividades referentes à preservação e salvaguarda do patrimônio imaterial.

Educação Alimentar e do Gosto

Utilizando-se do conceito e práticas da ecogastronomia como instrumento na gestão do conhecimento e da valorização dos saberes locais, os resultados obtidos a partir dos diálogos e compartilhamentos entre diferentes gerações do povo Tremembé da Barra do Mundaú nas atividades de campo pretendem restituir ao alimento sua dignidade cultural e um desenvolvimento territorial sustentável e consciente sobre a sociobiodiversidade e seus sistemas agroalimentares, fortalecendo as relações em torno do alimento a partir da compreensão de onde ele vem e a forma como foi produzido.

Para Mateus Tremembé, articulador local do projeto, agricultor familiar, agente ambiental, estudante de agronomia, pesquisador da cultura alimentar e jovem liderança, “falar de cultura alimentar é falar da defesa do território e da conexão com a mãe Terra”. Sendo assim, é a partir do reconhecimento territorial e da redescoberta de suas tradições que surgem as ferramentas necessárias para a garantia da segurança alimentar e nutricional de uma população.

O projeto “Território e Cultura Alimentar no Ceará” é uma realização da Associação Slow Food do Brasil (ASFB) e do AKSAAM – Adaptando Conhecimento para a Agricultura Sustentável e o Acesso a Mercados, projeto do FIDA – Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola e a Universidade Federal de Viçosa (UFV) com o apoio dos projetos Paulo Freire (FIDA), São José (Banco Mundial) e a Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco. As ações realizadas em território Tremembé contam, ainda, com apoio do CETRA.

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